
A Banda Black Rio surgiu durante a segunda metade da década de 70. Havia um movimento natural que surgia então: musicalmente ligava o soul ao samba, mas não foi um movimento restrito à música. Tinha uma variedade de nomes: Black Power, Soul Power, e o mais famoso, Black Rio. Os nomes estão em inglês porque a idéia era fundir as línguas, quebrar o individualismo, abrir espaços, e confrontar os puristas.
A cena desses eventos se passava no Rio de Janeiro, mas não na Zona Sul, da classe média alta, distrito branco que gerou a bossa-nova, mas na cidade que os cartões postais escondem, a Zona Norte, os morros, as favelas e as escolas de samba. Lá, o movimento Black Rio se estabeleceu, nos bailes dos fins de semana, que se tornaram muito frequentados, muitas vezes até aconteciam nas quadras das escolas de samba. Quem ia para esses bailes? Muitas pessoas, essencialmente negros que, influenciados pelo Civil Rights Activism da América do Norte, absorviam e transformavam essa nova postura para a nossa realidade brasileira.
A gravadora Warner havia acabado de se estabelecer no Brasil, e queria criar uma banda que fosse a pioneira deste movimento; então eles contactaram Oberdan Magalhães, um renomado saxofonista, que aceitou o desafio formando a Banda Black Rio. Nascido e criado em Madureira (Zona Norte do Rio de Janeiro) era primo de Silas de Oliveira (grande compositor de vários sambas enredo e um dos fundadores da Escola de Samba do Império Serrano) e afilhado de Mano Décio da Viola (outro grande nome do samba) tinha, portanto, a tradição do samba na família além de outros conhecimentos musicais também.

Muito influenciado por Pixinguinha como por Coleman Hawkins, grande admirador de Cartola e Stevie Wonder, levou adiante seus planos de fusão musical para os night-clubs do Rio, onde começou a tocar aos 15 anos de idade. Estudante de Paulo Moura, grande mestre brasileiro do saxofone, ingressou no grupo Impacto 8, onde começou a delinear o que mais tarde se tornaria o som da Banda Black Rio. No Impacto 8, Oberdan reuniu músicos como Raul de Souza e o baterista Robertinho Silva, tocando uma mistura, ainda na sua fase inicial, de soul, jazz e samba. A partir daí juntou-se ao pianista Dom Salvador e o grupo Abolição, onde conheceu alguns dos músicos que fizeram parte da primeira formação da Banda Black Rio, como o trompetista Barrosinho, o trombonista Lúcio e o baterista Luis Carlos. Entre shows e sessões de gravação, conheceu o guitarrista Cláudio Stevenson, o baixista Jamil Joanes e o pianista Cristóvão Bastos. Foram com esses músicos que ele formou o grupo Rio 40º.
Quando veio, na ocasião, o telefonema da Warner, Oberdan chamou seus colegas que, nesta época, estavam tocando em lugares diversos. Oberdan, então, elaborou um trabalho musical que não somente era dançante como também misturava os grooves do samba e do funk com a musicalidade do jazz, com referência à gafieira. A banda, então, gravou três discos: o instrumental “Maria Fumaça” (1976), “Gafieira Universal” (1978) e “Saci Pererê” (1980) além de ter sido convidada a participar de outros discos como o de Luiz Melodia e Caetano Veloso, este último gravado ao vivo chamado “Bicho Baile Show”.

A banda continuou fazendo shows no início da década de 80. Teve, porém, uma repentina interrupção devido a morte de Oberdan em um acidente de carro em 1984. Devido a esta interrupção, a banda ficou fora de atividade e só voltou depois de 15 anos através do filho de Oberdan, William Magalhães, pianista, tecladista, arranjador e produtor que trabalhou com vários artistas como, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Ed Motta, Marina Lima, Cláudio Zolli, Cassiano, Sandra de Sá, Milton Nascimento, entre outros. William iniciou seus estudos aos 7 anos e cresceu em um ambiente extremamente musical onde não só frequentava os ensaios de seu pai como também participava das serestas de sua vó Yolanda, os ensaios da escola de samba do Império Serrano onde sua família participava ativamente e os almoços de domingo na Serrinha na casa de sua Tia Maria onde se preserva até hoje a tradição do jongo. Na adolescência estudou jazz e foi aluno da pianista Sonia Vieira e aos 18 anos começou a tocar com Gilberto Gil participando de várias tournees internacionais. Em 1996 foi premiado pela APCA como melhor arranjador, pelo seu trabalho realizado no disco “Registros à Meia–Voz” de Marina Lima. Ainda na da década de 90, William começou a pesquisar o trabalho da Banda Black Rio e estudou os esboços e as poucas partituras deixadas por seu pai. Os arranjos de metais e as batidas que misturavam samba com outros ritmos sempre foram a marca registrada desta banda. Em 1999 a banda estava montada novamente e então gravaram o disco entitulado “Movimento” em 2001 pelo selo Regata e foi premiada como melhor banda pop rock em 2002 pelo prêmio Caras – antigo prêmio Sharp. Este disco foi lançado em Londres pelo selo Mr. Bongo em dezembro de 2002 com algumas faixas remixadas por grandes nomes da música Londrina, como Fase Action, entre outros. O título deste CD na Inglaterra é “Rebirth”, que traduz precisamente este momento de renascimento.
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